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Mais de 5 mil pessoas pediram para mudar domicílio eleitoral para votar em Mangaratiba; eleição é investigada por suspeita de fraude

O esquema suspeito foi revelado pelo Fantástico no domingo. O MP e a Polícia Federal apuram se foram feitas transferências de título de eleitor às pressa p...

Mais de 5 mil pessoas pediram para mudar domicílio eleitoral para votar em Mangaratiba; eleição é investigada por suspeita de fraude
Mais de 5 mil pessoas pediram para mudar domicílio eleitoral para votar em Mangaratiba; eleição é investigada por suspeita de fraude (Foto: Reprodução)

O esquema suspeito foi revelado pelo Fantástico no domingo. O MP e a Polícia Federal apuram se foram feitas transferências de título de eleitor às pressa para impactar nas eleições de 2024. Município tem mais eleitores registrados do que moradores. PF e MPRJ investigam eleição em Mangaratiba por suspeita de fraude Nas eleições de 2024, mais de 5 mil pessoas pediram para mudar o domicílio eleitoral para Mangaratiba, em um caso que está sendo investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. O esquema suspeito foi revelado pelo Fantástico no domingo. A TV Globo conversou com quem votou em Mangaratiba mesmo sem morar na cidade. O prefeito eleito nega as acusações. As duas pessoas ouvidas pelo RJ1 faziam parte do grupo de conversas Voto Mangaratiba no Whatsapp. A suspeita é de um esquema de transferência de título às pressas, sem estar morando na cidade, em troca de dinheiro ou outras vantagens. Hoje, Mangaratiba tem mais eleitores registrados do que habitantes: São 41,2 mil moradores, segundo os últimos dados do IBGE. E o número de pessoas que votam na cidade chega a 46,8 mil. A repórter Luana Alves conversou com um morador de Santa Cruz que votou em Mangaratiba na última eleição. Após alegar que morou no município e por isso votou lá, o homem diz que vai ligar em outro horário. No entanto, ele não responde a outras tentativas de contato. Alex: Alô Repórter: Alô, Alex! Alex: Oi. Repórter: Oi, Alex, bom dia. Aqui quem fala é Luana Alves, repórter da Tv Globo, tudo bem? Alex: tudo bem. Repórter: Você é morador de Sepetiba, não é? Alex: Não, santa cruz. Repórter: Você é morador de Santa Cruz? Na última eleição municipal, o senhor votou em Mangaratiba, não foi isso? Alex: Não... votei em Mangaratiba. Isso ai. Repórter: Mas se o senhor e morador de Santa Cruz, por que o senhor votou em outro município? Alex: Porque eu morava em Mangaratiba. Repórter: Mas no dia da eleição municipal o senhor morava em santa cruz? Alex: Isso aí. Repórter: Mas morando em Santa Cruz você não deveria votar no município do Rio? Alex: Você pode me ligar daqui a pouco que eu estou trabalhando? me liga em meia hora que eu falo com você melhor. Repórter: Tá ok, obrigada! Em outra conversa com uma pessoa que participava do grupo Voto Mangaratiba, a repórter repete a pergunta, e Éder afirmou que também morou no município, apesar de atualmente morar no Rio de Janeiro: Repórter: No dia da eleição municipal o senhor morava no Rio ou em Mangaratiba? Éder: Em Mangaratiba. Mas já tem um tempão já.... Repórter: Foi em outubro agora. Éder: A votação e de lá. Sempre votei lá. Repórter: Mês passado você morava aonde? No Rio ou em Mangaratiba? Éder: Magalhães bastos. Repórter: Mês passado você morava em Magalhães Bastos? Éder: É. Repórter: Mas Magalhães Bastos é no Rio. Éder: É... Rapidinho. É que eu estou aqui no trabalho e não tem como ficar falando no telefone não. Fantástico investiga esquema em eleição em cidade que tem mais eleitores do que moradores Movimentação suspeita Só nos primeiros cinco meses de 2024, mais de 5,5 mil pessoas pediram à justiça eleitoral para transferir os títulos eleitorais para o município. Quase 1,5 mil desses pedidos foram negados por inconsistências nas informações. A corrida para a troca de domicílio chamou a atenção da promotoria que fica próxima ao cartório eleitoral de Mangaratiba. "Chegou um momento que encheu tanto que não cabia mais aqui no corredor. Eles tiveram que descer com a fila lá para a porta do fórum, para a rua, com distribuição de senha, era um negócio absurdo", afirmou a promotora eleitoral Débora de Souza Becker Lima. Ela afirmou ainda que muitas pessoas não sabiam os nomes dos distritos do município, o que acendeu um sinal de alerta: "A gente perguntava o que que estavam fazendo ali, o que que elas queriam fazer no cartório, onde que elas moravam. Às vezes as pessoas se enrolavam, não sabiam o nome dos distritos. É, por exemplo, aqui tem um distrito chamado Fazenda Ingaíba. E aí eu abordei uma vez um rapaz, ele falou que morava na Ingaiba. Falei 'bom, então você não mora em Mangaratiba, sugiro que você vá embora'", disse a promotora. Após o resultado da eleição, que terminou com a vitória do deputado estadual Luiz Cláudio por uma diferença de 125 votos, o candidato Arão Moura encaminhou uma notícia crime ao MP. O prefeito eleito nega as acusações de fraude e compra de voto. A promotora eleitoral encaminhou o caso para a Policia Federal e que também instaurou um procedimento que pode iniciar uma investigação judicial eleitoral. Entre as possíveis consequências para a chapa vencedora, estão a cassação do diploma e a inelegibilidade. "Ainda está em processo bem inicial, mas se for comprovado, isso aí teve um impacto imenso, um desequilíbrio imenso no resultado da eleição de Mangaratiba", pontuou Débora Becker. Nota do prefeito eleito O prefeito eleito de Mangaratiba, Luiz Cláudio, enviou uma nota negando as acusações e acusando membros da chapa derrotada de enviar informações ao MP após a perda das eleições: "Em relação à matéria veiculada no programa Fantástico da Rede Globo, na noite de 24/11/2024, sobre suposta fraude nas eleições de Mangaratiba, o deputado estadual Luiz Cláudio, prefeito eleito no pleito de outubro de 2024, esclarece: - Refuta categoricamente qualquer acusação de compra de votos ou prática de atos ilícitos para interferir no resultado das eleições. Ressalta que não autorizou ninguém a agir em seu nome de forma irregular. - Estranha a insistência da chapa derrotada em questionar o resultado legítimo das urnas, recorrendo a ações judiciais sem fundamento. Até o momento, a chapa derrotada ajuizou oito ações, todas já julgadas improcedentes pela Justiça. - A matéria evidencia a existência de provas forjadas pela chapa derrotada, como comprovantes de votação falsos, eleitores inexistentes, pessoas falecidas e eleitores que não votaram em Mangaratiba. - A promotora mencionou na reportagem a apreensão de um drone que "monitorava" a movimentação de eleitores. Sabe-se que o equipamento estava sendo operado por pessoas ligadas a um partido coligado à chapa derrotada. - O eventual aumento do número de eleitores no município, ao contrário de prejudicá-lo, favoreceria o candidato Aarão, cuja votação aumentou mais de 60% em relação aos últimos três pleitos municipais que disputou. - Conforme declarado pela promotora, os recibos de urna apresentados não comprovam nenhuma irregularidade no resultado da eleição, já que não é possível identificar qual candidato teria sido beneficiado. - Das mais de cinco mil supostas irregularidades apuradas pelo Ministério Público, 1.457 transferências de títulos foram canceladas antes da eleição, demonstrando a atuação eficaz do órgão para garantir a lisura do processo eleitoral. - Reitera sua plena confiança na Justiça Eleitoral e afirma que todas as suas ações seguiram rigorosamente a legislação vigente. As acusações feitas carecem de respaldo em fatos ou evidências concretas. Por fim, é fundamental esclarecer que o candidato Aarão, cuja inelegibilidade foi suspensa às vésperas da eleição, iniciou, após o resultado desfavorável, uma campanha para fabricar provas de suposto abuso de poder. Essa estratégia, lamentavelmente, inclui questionar o cadastro de eleitores do município, que é rigorosamente controlado pelo Ministério Público e pela Justiça Eleitoral.