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Negro Muro: veja mapa de artes com personalidades negras no RJ

O produtor cultural Pedro Rajão e o artista urbano Cazé estão à frente do projeto Negro Muro Foto: Douglas Dobby O pesquisador e produtor cultural Pedro Raj...

Negro Muro: veja mapa de artes com personalidades negras no RJ
Negro Muro: veja mapa de artes com personalidades negras no RJ (Foto: Reprodução)

O produtor cultural Pedro Rajão e o artista urbano Cazé estão à frente do projeto Negro Muro Foto: Douglas Dobby O pesquisador e produtor cultural Pedro Rajão e o artista plástico Fernando Sawaya, o Cazé, espalharam pelo Grande Rio homenagens a figuras negras que marcaram a história do Brasil. É o Negro Muro, projeto que já coleciona mais de 60 grafites que retratam ícones como Bispo do Rosário, Djavan, Elza Soares e Machado de Assis — e o g1 traz onde os desenhos estão. Passe o cursor sobre o mapa, descubra onde estão os muros, veja fotos e conheça a história de cada personagem retratada. Veja artistas representados pelo projeto Negro Muro Personalidades da história negra viram murais pela cidade do Rio de Janeiro Entenda a diferença entre racismo e injúria racial Como começou A união entre pesquisa e arte nasceu em 2018. Rajão, DJ e estudioso de música africana, sonhava em fazer um mural de Fela Kuti, saxofonista, cantor e compositor nigeriado. Um amigo o apresentou a Cazé. Era o começo da parceria. “Apareci na casa dele com um DVD e um CD do Fela. Ficamos horas ouvindo música, falando dele… e pintamos o primeiro mural no Grajaú”, relembra Rajão. Com o tempo, a dupla percebeu que havia muito mais a ser contado — e que suas linguagens se combinavam de maneira precisa: Rajão pesquisava, encontrava famílias, vasculhava acervos; Cazé traduzia esse material em imagens que tomavam as ruas com força estética e histórica. Os murais não surgem apenas do desejo de embelezar a cidade, mas de provocar reflexão. Rajão destaca que o impacto visual da obra muitas vezes é mais eficiente do que monumentos tradicionais. “Porque, para além das 19 escolas que a gente já pintou, eu estou frequentemente em sala de aula falando sobre o Negro Muro, sobre o processo de pesquisa, sobre o conceito de memória pública e como a gente constrói essa memória social a partir de pinturas de figuras negras históricas”, afirma. No Largo da Prainha, próximo à estátua da bailarina Mercedes Baptista, 1ª mulher negra a integrar o corpo de baile do Theatro Municipal, está o mural de Conceição Evaristo, escritora reconhecida por retratar a vida das mulheres negras e as histórias das comunidades afro-brasileiras. 📱Baixe o app do g1 para ver notícias do RJ em tempo real e de graça “Quando as pessoas veem um mural de 21 metros de altura, querendo ou não, você vai olhar para aquela arte e falar: quem é ela? No mínimo, quem é essa mulher? Querendo ou não, quando você passa por um determinado mural, no seu inconsciente, aquela figura já está conectada àquele espaço”, comenta Pedro Rajão, ressaltando o impacto direto da obra na cidade. Estátua de Mercedes Baptista com o mural de Conceição Evaristo ao fundo, no Largo da Prainha Créditos: Jéssica Evelin Araújo Pesquisa, arte e educação Rajão é responsável por mergulhar na biografia de cada homenageado. Ele consulta jornais antigos, arquivos, historiadores, familiares e pesquisadores para montar um dossiê completo, que depois serve de base para Cazé construir o layout do mural. “Se o personagem estiver vivo, vou tentar falar com ele. Se não estiver, vou atrás dos herdeiros. Se não tiver herdeiros, falo com quem pesquisa aquela pessoa”, explica Rajão. O artista plástico Fernando Sawaya, por sua vez, transforma essa memória em imagem. Nos primeiros anos, pintava sozinho. Hoje, trabalha ao lado dos artistas assistentes César Mendes e João Bela, além de equipes de vídeo e foto. A precisão de seu traço e sua capacidade de criar retratos expressivos tornaram seu estilo parte fundamental da identidade estética do projeto. Mas o Negro Muro não é só pintura. Em diversas escolas, principalmente públicas, a dupla realiza debates, oficinas e imersões antes e depois do mural. Os alunos aprendem quem foi aquela pessoa, o que ela fez e por que merece ser lembrada. O processo é pedagógico, afetivo e político. Mural Lélia Gonzalez no Colégio Pedro II da Tijuca Thayná Gonçalves Na Tijuca, o Colégio Pedro II recebeu recentemente um mural dedicado à intelectual, antropóloga e militante Lélia Gonzalez. Reconhecida como a primeira mulher negra do país a se debruçar de forma sistemática sobre os estudos de raça e gênero, Lélia deixou uma obra fundamental para a compreensão das dinâmicas sociais brasileiras. E ela foi estudante da própria instituição. A historiadora Beatriz Nascimento também é homenageada. “É preciso a imagem para recuperar a identidade. Tem-se que tornar-se visível, porque o rosto de um é o reflexo do outro e cada um, o reflexo de todos os corpos. A invisibilidade está na raiz da perda da identidade”, declarou. Beatriz Nascimento Crédito: Negro Muro Quem vive nos muros do Rio Os muros contam histórias que vão do samba à política, do teatro à ciência, da luta comunitária à espiritualidade. Entre os homenageados estão figuras do cotidiano, artistas consagrados e personagens fundamentais da história negra brasileira. Na Saúde, o rosto de Prata Preta ocupa um muro que hoje dialoga com o mesmo território onde, em 1904, liderou a resistência popular durante a Revolta da Vacina. “É impossível contar a história do Rio sem falar dele”, diz Rajão. No Centro, o Theatro Municipal abriga a pintura de Ruth de Souza, pioneira das artes cênicas e referência absoluta para gerações de artistas negros. Negro Muro homenageia Ruth de Souza em anexo do Theatro Municipal, do Rio Créditos: Jéssica Evelin Araújo O projeto também cruza o samba com a memória ancestral: em Xerém, um mural reúne a “Santíssima Trindade do Samba” — Pixinguinha, Donga e João da Baiana — pintados em frente ao Instituto Zeca Pagodinho, reforçando como esses homens foram pilares da música popular brasileira. Outro tributo está em Campo Grande, no muro da Escola Municipal Ministro Adaucto Lúcio Cardoso: Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor e símbolo de elegância e representatividade no Carnaval. Selminha Sorriso, porta-bandeira da Beija-Flor Crédito: Siqueira/ Negro Muro Na Gamboa, o Museu da História e da Cultura Afro-Brasileira abriga homenagens a figuras centrais da Pequena África, como Tia Lúcia, artista e líder cultural que ocupou espaços com arte e educação, e também as Tias da Pequena África, mulheres negras que formaram a base cultural do Rio entre os séculos 19 e 20, fortalecendo redes de solidariedade, religiosidade, culinária e música. No Aeroporto Tom Jobim, um dos principais portões de entrada da cidade, o baterista e compositor Wilson das Neves saúda quem chega ao Rio. Já na Gamboa, outra figura essencial da arte brasileira — Zezé Motta — estampa o muro com a potência que marcou sua carreira no teatro, no cinema e na música. Wilson das Neves no Aeroporto Tom Jobim Divulgação *Estagiária, sob supervisão de Eduardo Pierre